Em uma tarde como outra estava dando banho na Bia e lavando seu cabelo, e enquanto o massageava ela me perguntou por que Jesus não fez todo mundo branco. E porque ela era “dessa cor”, como ela mesma disse. Na hora, não sabia o que responder, fiquei tentando encontrar respostas. Queria que ela entendesse que não tinha problemas com sua cor, mas como explicaria isso ? E mais difícil ainda: se ela compreenderia e aceitaria o que eu tinha pra dizer. Só um negro sabe e sente o que ele sabe, sente e vive. Em meio a tantas tentativas falei que ela não era melhor nem pior que ninguém pela cor , ela disse que era sim. Disse que é feia por causa da cor e, não ousou dizer que era preta ou negra, ela só falava “minha cor”, “essa cor”. Tentei explicar que existem coisas mais importantes do que cor, que a cor não passava de uma cor, que ser branco, amarelo, vermelho, verde ou preto não deveria interferir no que era e seria; na tentativa de não chocá-la mais ainda, hipocrisia, pois a gente sabe que interfere sim.
Eu falei, falei, falei, ela só ouvia, não respondeu nada, e o silêncio dela me foi suficiente para perceber que “só eu sei do que estou falando”, e eu compreendo perfeitamente. Depois de um silêncio ela me perguntou: “e quando meu cabelo vai crescer?” o cabelo dela é cacheado e quando enxuto parece mais curto. Eu só falei: “o teu cabelo cresce”. – mas não tá grande, eu quero saber quando vai ficar grande. Eu disse que cabelo cresce aos poucos, e que curto ou grande fazia pouca diferença porque o cabelo dela é lindo. E mais uma vez ela não respondeu.
Logo depois passei creme para pentear e deixei o cabelo dela solto, como nunca fica, e coloquei uma traca (arco – rs). Ela ficou feliz da vida porque o cabelo tava solto, saiu perguntando pra todo mundo se tava bonito e de hora em hora se olhava no espelho.