Uma blusa caída nos ombros, com estampas coloridas, calça jeans escura e All star, Angélica caminhava para a parada de ônibus, jogando a franja de lado num andar meio largado. De largada não tinha nada, apesar de não ser de família rica, procura estar sempre na moda, como ela mesma dizia "de acordo com as tendências". Conseguiu pegar logo um ônibus, e nem estava cheio, dava pra ela escutar música sentada tranquilamente até chegar ao shopping. Ainda no caminho entrou um garoto pela porta de trás, Angélica logo virou a cara. Não poderia ser reconhecida pelo vizinho vendedor de balas nos ônibus, ou ele passaria horas falando sobre o tiroteio na rua da noite anterior. Ele a reconheceu, mas entendeu o recado direitinho. Só mostrou a caixa de balas a ela, que o ignorou. O menino era bonito e tinha sido o seu namoradinho de infância. Mas agora eles não eram mais crianças. Os dois cresceram e viviam de formas diferentes, embora ambos ainda tivessem 16 anos.
Depois de tanta demora, finalmente chegou. Uma mexida no cabelo, uma arrumada na franja, um Trident, estava pronta. Agora ela iria para o segundo piso, talvez ele já estivesse à sua espera. Pela demora no engarrafamento, talvez já estivesse até ido embora; meia hora de atraso... Matutava Angélica enquanto andava rápido. Mas não, ele também estava no trânsito e não queria perder tempo com justificativas. Logo perguntou:"o preço é aquele mesmo que a gente combinou né?". "Aham, sem problemas"- respondeu Angélica monotonamente. Os dois saíram, ele mais a frente e ela o seguindo. Ao final, marcaram mais um encontro e ela voltou ao shopping para comprar um vestido da nova coleção.
Já sabia o que diria á sua mãe “as vendas tinham sido boas e resolvi comprar um vestidinho que tava na promoção.”