Tava bom demais pra ser verdade, bastou à primeira prova pros queridos alunos revelarem a sua face e a professora querida se tornar inimiga para alguns.
Depois de um mês de aula e na corrida contra o tempo, consegui concluir o conteúdo e até fazer algumas avaliações nas 3 séries (6ª, 7ª e 8ª), e já era hora de fazer a primeira prova, com questões bem elaboradas e referentes a todo o conteúdo dado e revisado em sala. Eles estavam um tanto quanto tensos e ansiosos, a prova foi desmarcada duas vezes e nas duas tiveram alunos que fugiram antes, pra não fazer prova e acabaram perdendo revisões decisivas, resumindo questões da prova (rs). Eu não esperava tantas notas baixas, afinal, tava tudo no caderno atividades que eles fizeram. Entretanto, a decepção foi grande. E, graças a Deus, pelo menos um ou dois alunos chegaram a notas acima de 9,0 em cada sala. Imagina: se de 30 alunos, um tira 9,5 e os outros abaixo de 5,0, de quem é a culpa? Do professor, certamente. Pra entender isso não precisa saber muito de pedagogia. Mas, só depois de devolver a prova para responderem pesquisando, percebi que nem pesquisar eles sabem. É triste! São alunos de 15 anos em 6ª série que não sabem ler, nem escrever. Na verdade, eles desenham letras, e acabam copiando de um que sabe. A maioria são pessoas sem perspectiva nenhuma de vida. Estudar? Escola? É muito difícil! O professor deve compreender isso e buscar a melhor forma de lidar sem deixar que o aluno perceba, porque se ele percebe, o professor é “mole”, tá “aliviando”, aí vira bagunça. Não é nada fácil pro professor, que muitas vezes é visto como o inimigo, e quando tenta ser amigo acaba em situações não tão agradáveis como uma que eu passei ontem. Tava na hora da prova, aquela boa e velha organização da sala, desfazendo os grupinhos pra amenizar o problema da cola, quando uma garota grita e começa a falar um monte de baboseiras dizendo que não ia mudar de lugar, eu tomei até um susto, e a minha reação não foi outra, comecei a rir, assim como os outros alunos. E pedi mais uma vez que ela mudasse, pois eu queria entregar as provas. Mas, por ela ninguém receberia, como ela mesma fez questão de dizer gritando. Tudo bem, comecei a entregar a prova, meu sangue já tava fervendo, mas me controlei, enquanto pensava se a garota achava que eu iria ceder à vontade dela porque gritava. Tendo que suportar a voz chata ainda falando, passei por ela e não entreguei a prova, falei que só receberia depois que mudasse de lugar. A menina ainda falou mais algumas besteiras, eu só ouvi quando ela disse “nem minha mãe bota moral em mim, professor vai botar...” E já com o rosto pegando fogo, respondi nada calmamente: “garota eu não tô aqui pra botar moral em ninguém, você tem que saber seu lugar. Eu não to sendo paga pra isso, isso não é meu trabalho. Se a tua mãe não coloca moral em ti, problema de vocês, eu não tenho nada com isso.” “Eu sei que a senhora não tá aqui pra botar moral em mim...blábláblá blábláblá”, “então pronto, eu não vou discutir contigo”. Ela não fez a prova e o fato foi comunicado a coordenação, pra não me trazer problemas futuros. Mas a partir de então, é esquecer o fato, tratá-la normal, não “marcar”, enfim mostrar superioridade. É mole? “Hum-hum nadinha”. Mas, é a vida, não dá pra ser tudo perfeito e como dizia um louco professor meu “Se nem Jesus agradou a todos, como poderei eu agradar?”Sabias palavras. Claro, ficou aquela culpa e duvida: "Será que eu fiz certo? Deixei a garota sem prova por causa de uma besteira. Mas também, eu não poderia voltar atrás, se o fizesse daria motivo pros outros; ela já tinha gritado comigo mesmo... De alguma forma isso serviria de exemplo para os outros, e se eu cedesse ficaria "desmoralizada" na turma toda, que até concordou comigo." Ehh, foi a primeira de tantas outras situações que estou exposta e disposta a passar, talvez isso sirva de lição pra mim. Quem sabe assim eu encontre forças pra tentar outra graduação ou um concurso desses federais, que não seja no campo da docência, cujo meu trabalho seja valorizado ($) e eu não tenha que esquentar minha cabeça com filhos de pais "sem moral".