domingo, 31 de março de 2013

O que tenho pra hoje


Hoje eu quero encostar no travesseiro e chorar. Tentar colocar pra fora o que eu sinto. Tentar expulsar o meu medo. Expulsar minhas tristezas, minhas fraquezas. Tentar pôr pra fora tudo que  não posso falar. Hoje eu quero desabar, sozinha mesmo, sem ter ninguém pra me juntar, despedaçar ao lembrar de cada momento, cada lágrima, cada sorriso, tudo o que foi dito, cada dor. Preciso desfazer esse nó do peito, e me livrar desses sentimentos, desses ressentimentos. Avaliar o que é melhor pra mim. Estar inteira pra fazer o que é preciso fazer, estar inteira pra mim. Totalmente entregue aos meus objetivos, sem pontos pra desfocar. Já posso me sentir um pouco mais forte, só de pensar no alívio que virá, depois que deitar e desabar. E no dia seguinte, com certeza já não serei mais a mesma. Estarei pronta pra me machucar outra vez. E posso me sentir tão forte a ponto de, realmente, querer me machucar outra vez. Mas hoje, é preciso desmoronar.
 
 
um motivo
uma razão
um sorriso
o que eu queria 
uma emoção
um sabor
um sentimento
alegria
mas
...
não,
solidão

terça-feira, 26 de março de 2013

Ela ama


Lembra do sorriso, quieto, singelo. Daqueles olhos curtos, arregalados. Das gesticulações ao falar, do jeito de falar. Das mãos pequenas. Tudo nele é bonito. Ele é simples e super inteligente, ela acha. É humilde, cult e nem se dá conta disso – é o que ela pensa. E ele quem será? Menos do que ela espera, talvez; mais do que ela possa imaginar. Aquele jeitinho doce, agradável, sensível, tudo que ela podia querer de alguém. Ele não é charmoso, ele é simples, é puro. Não é de fazer pose. Não é de querer impor um jeito de ser. Ele é crítico, é ético, é certo. É espontâneo, alegre, cheio de vida. Do tipo que se indigna, mas não gosta de confusão. Discute e luta, mas não gosta de brigas. É honesto, tem princípios. É sensível e acredita nas pessoas. Quem é ele? Isso tudo que ela acha? Um príncipe... um herói, um homem bom. Que tem paixão pelo que faz. Faz com paixão tudo que deve fazer. Parece que nunca cansa, vive pra vida, vive para os outros e não tem quem viva por ele... ela seria esse alguém... se ilude, era o que mais queria. E ele seria tudo que ela vê? Talvez não, mas com certeza é tudo o que ela quer.

E não dá...


Eu poderia te oferecer tudo que eu tenho, mas não posso, eu ficaria sem ter o que te dar. Eu poderia te prometer o infinito, mas não posso dar o que não tenho. Tentar te fazer feliz... eu tentei, mas não consigo ser perfeita; preferi amar. Eu posso assumir a culpa de tudo. Tudo bem, eu assumo, se isso te satisfaz, assumo e carrego comigo, assim fica mais leve pra ti. Fugir? Não! Eu prefiro encarar, mas não posso prometer o que não tenho certeza que vá fazer. Eu tenho arestas, tenho alguns excessos, talvez não caiba em fôrmas tão estreitas, tão definidas, tão personalizadas. Talvez existam fôrmas mais amplas, mais espaçosas, talvez não. Mas pouco posso fazer. Não é fácil te fazer feliz, hoje eu prefiro te ver feliz. Acho que não tenho forças pra tentar, a gente resolve deixar tudo como está. E deixo doer, me vejo sangrar, uma hora passa, mas agora não dá.
 

quarta-feira, 13 de março de 2013

O que escolhi


 
E o que acontece exatamente comigo...juro que não sei. É algo de dentro pra fora, talvez... algo de fora pra dentro, não sei. Nada me atinge tanto quanto esse excesso. Excesso de expressões, de informações. E meu coração teria ficado tão duro assim? Frio talvez. Não...É apenas uma forma diferente de sentir o mundo. Se estou gostando? Nem eu posso saber. É uma leveza que me faz bem, por outro lado a impaciência impera, resultado do meu excesso de compreensão de outrora. Eu quero expandir, não consigo mais tolerar o que me parece pequeno e empecilho para o progresso. Eu quero viver a amplitude da vida. E eu já nem sei o que eu quero. Às vezes parece que esqueci de mim, me deixei em algum lugar,  já não sou mais a mesma, já não sou o que fui, e quem até admirei. Hoje posso ser alguém a quem eu não admiro tanto, mas permito ser. Alguém a quem não questiono. Alguém mesmo perdido, sem perseguir qualquer objetivo fixo. Existe uma vida, um mundo a desbravar... ah a imensidão do oceano, eu quero viver como se estivesse no mar. Já sinto dentro de mim o enjoo do embalar da ondas... pra lá e pra cá, e me desafio por saber que é isso que eu quero, não sei exatamente se quero, mas foi o que eu escolhi pra mim.

domingo, 10 de março de 2013

Coisas de Mãe


E o que falar sobre as mães? Sempre preocupadas, sempre pensando à frente, sempre se precipitando. Errando com as superproteções. E quem disse que mãe não pode errar? Sempre cobrando tanto, projetando o papel do cidadão ideal, correto e bem visto pela sociedade. Aí que pega neh... o que é a sociedade? Não vamos entrar nisso agora, vamos falar de mãe. Mãe, que consegue perceber o que os outros não veem, assim diz a minha mãe... "consegue enxergar longe". Se consegue, eu não sei; fazem julgamentos apressados, como forma de proteção. Mães... Ah...as mães!! Sempre tem a coisa certa a dizer... huuum, nem sempre. Mães não são perfeitas, são seres humanos. Únicos seres que conseguem odiar e perdoar numa rapidez incrível aquele que a chama “mãe”. E a intuição de mãe? É amor? É ligação? O que é? Huuum sintonia, telepatia com o anjo guardião daquele a quem chama de filho. Mãe consegue superar a sua intuição, representada nos gestos e palavras mais inocentes e sem intenção nenhuma. Dizem coisas por dizer e até sem saber do que se passa com sua cria. E o que é isso hein?! É certo, mãe também fantasia. E os melhores conselhos são aqueles ocultos, em que elas falam sem precisar advertir, em que elas falam ser querer. Quando, sem querer sua mãe fala “Curte a vida filho, aproveita que a juventude passa rápido”, sem dizer exatamente isso, com essas palavras, e sem querer dizer isso. Quando o que elas mais falam é “mantenha o foco”, “cresça”, “não perca tempo com bobagens”. E na verdade, quando sem querer elas dizem “dê uma pirada”, ela está apenas dizendo o que o coração de mãe fala, e ele fala por si, o amor de mãe tem vida própria e só pode é estar em constante sintonia com o coração de filho. E isso só sendo mãe pra saber... São coisas de mãe.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A quinta de Marina

 
Era uma quinta-feira, não como as outras. Marina já estava a seis meses trabalhando no interior, cidadezinha calma, trabalho tranquilo, aquela chata amiga que sempre abusava da calma e boa vontade dela. Agora já tinha umas outras, do outro setor, mas com quem conseguia conversar tranquilamente. Depois do último trauma, havia evitado conhecer, falar com caras que se parecessem com seu ex. Às vezes achava que não iria mais encontrar alguém com quem quisesse dividir uma vida, com quem quisesse ficar abraçada por horas, sem dizer nada. Com quem quisesse estar nas últimas horas sem pensar em mais nada. E até de sentir isso ela sentia falta. Mas aquele convite poderia lhe acender um pouco de esperança, embora ela não encarasse assim. Ele era só o motorista, e o que os pais dela pensariam? Ela, formada, num emprego medíocre de concurso público, numa cidadezinha medíocre, poderia ao menos namorar um defensor dalí, um advogado que estivesse por ali... ou até alguém no mesmo cargo, com o mesmo grau de instrução. Mas foi de um motorista que ela chamou atenção. Não sejamos injustos, não foi só do motorista, mas não conta o administrativo do outro setor porque tinha algo que lembrava o ex, ela não sabe se era a pose, algum traço, o corte de cabelo, talvez. Não sabia definir o que era, talvez fosse o jeito de chegar, o que com certeza diminuiu as chances com Marina. O motorista era sorridente, um pouco tímido, mas alegre, não tão bonito, não era alguém que chamasse atenção. Um pouco gentil e calado, ao mesmo tempo. Ficava admirando Marina de longe, ela fingia não perceber, assim se sentia mais a vontade pra engatar uma conversa com ele sempre que a levava para casa. Marina nunca foi de tomar iniciativa, mas quase que de forma impulsiva, ela estava conquistando ele. Um sorriso, uma atenção especial. Não se pode definir se estava conquistando, ou se estava encantada. E naquela onda de atenções e sorrisos bobos, ele a convidara para sair. - Já foi no "Diplomata"? . - Ainda não, saio pouco aqui, já comi no Careca, nada fino (risos). Sempre saio com as meninas do protocolo. - Pois vamos hoje comer alguma coisa depois do expediente, ou se você preferir um pouco mais tarde... - É melhor, assim vou em casa primeiro. E o que havia sido aquilo? Era o que Marina se perguntava, era um “encontro”? Depois do expediente, talvez não. Mas e a possibilidade de ir mais tarde?  Ela nunca tinha tido um “encontro” assim, alguém que ainda não era nada... Ela não sabia entender o que era aquilo, ele poderia estar sozinho, precisando de uma companhia, ele queria sair pra jantar, não tinha ninguém. Ou, ele estava mesmo afim. Mas afim como? Afim de fazer dela sobremesa e depois sumir? Não tinha como sumir. Ou ele queria uma diversão, amiga de trabalho, quem sabe? Já tinha aceitado, não iria bancar a louca. O peito se encheu de coragem e determinação, até ter que escolher algo pra vestir. Encontrou um vestido, marrom com estampas em cobre, era um belo vestido. Nada tão sofisticado, uma maquiagem simples... Ela não era tão bela, com rosto que estampava acnes, ficava bem apresentável maquiada. As horas passaram muito rapidamente, a ponto de não ter se dado conta do desenrolar das conversas, da escolha do prato. Era como se estivesse bêbada, mas não tombava. Era como se ela tivesse vivendo tudo aquilo sem aproveitar nada do que tivesse acontecendo em cada momento. Era como se concentrasse apenas no depois. E até que, finalmente, chega o depois. A hora de ir pra casa. Ele abre a porta do carro para Marina, já acostumada com a gentileza, devolve naturalmente um sorriso. Mas aquele sorriso era ofuscante para ele. Mordeu um sorriso para ela, meio sem jeito diante dos próprios pensamentos. Ainda falaram do prato durante o caminho, falaram do casal na mesa ao lado, mas o silêncio predominava e era agoniante, constrangedor. Ao chegar, ela logo se arrumava pra descer do carro, sem que ele tivesse desligado. E aquele investimento todo pra que pra fugir agora assim? Ela não sabia o que fazer, aquela altura tinha medo do que pudesse parecer, normal para uma garota insegura. Mas ele já se sentia seguro o suficiente para segurar no seu braço e tascar aquele beijo, que pra ela fora um tanto precipitado, a ponto de ela não conseguir retribuir da mesma forma. Deu uma aliviada, e mais duas bitoquinhas. - Preciso ir, amanha ainda é sexta, tem trabalho, você também precisa. Eh... obrigada, adorei. Disse ela, meio sem jeito, meio sem querer dizer aquilo. - Até amanha?. - Sim, até amanha. Ela baixou a cabeça sorrindo. Ele ainda a puxou pela bochecha, dando um último beijo meio desajeitado, ela já saindo. Dormir aquela noite? Meio difícil... Por que não deixou se prolongar um pouco mais? Deveria ter dado mais uma bitoca antes de sair. Mas foi de bom tamanho dizer "até amanha", aquilo tinha o significado além do “até mais” habitual.  
 

terça-feira, 5 de março de 2013

Ando meio cansada...


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sábado, 2 de março de 2013

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.